quarta-feira, 10 de maio de 2006

Derivação por Prefixação

Há de se me perdoar os estrangeirismos neste texto. But, I was feeling like blue last night. E sempre que isto acontece meu cérebro pensa em inglês. Não lhes sei explicar o motivo, aliás, nunca soube. Mas arrisco que, talvez, para não me causar maior impacto, opta por uma língua pouco poética e absolutamente impessoal. Até mesmo porque ser feliz com musicalidade, ainda que em tons menores, é possível. Mas como se cantar a ausência? Melhor explicá-la em international trade terms.

E em prol da explicação desta inexistência, não só de sentimento, mas de vontade e opinião, veio-me a mais assombrosa das descobertas. O nosso afeto à autonocividade chegou ao cúmulo de construir-nos uma cela lingüística onde é fácil negar o salutar, mas impossível refutar o ruim.

Explico-me! Sou dado a frases de efeito. Creio que contextualizem suficientemente o olhar e, assim, preterem as longas explicações. Por sorte, normalmente as recebo prontas, num processo involuntário de raciocínio. Vez ou outra, contudo, vêm-me com lacunas, mas logo as complemento e pronto, hei uma história.

Anyway, that, I wasn't able to do in such case, when the phrase needed to be complete with some denial about a bad feeling! A negação daria o efeito correto de falta, pois, por obvio, não se pode afirmá-la. Inicialmente atribuí a incapacidade ao desconhecimento da lingual estrangeira, e forcei-me a pensar em português. Vasculhei meu cérebro, mas não tive motivação para o dicionário.

Eis o fato: para a felicidade temos infelicidade; para esperança temos desesperado; para amor, pasmem, temos desamor. Mas não me lembro de já ter escutado destriste, inraiva ou inódio!

Até mesmo porque me lembraria, o som é mais do que cacofônico. Inclusive nossos ouvidos são treinados para desconsiderar a negação do pernicioso!

Só mesmo um selvagem poderia contrariar a dinâmica lingüística do Admirável Mundo Novo. Mas logo enchê-lo-iam de soma e restaurariam a paz. Ora, qual a razão de discutir-se o sistema que funciona?

Talvez um garimpeiro de vernáculos encontre alguma ocorrência machadiana para me contradizer, mas não creio que a contabilidade destas pepitas aponte saldo maior. Já contesto também os puristas, acho maçante a tarefa de correlacionar os radicais que, a meu ver, estariam ligados aos bons sentimentos com seus possíveis antônimos. Ademais, se é verdade que são de maior número, significaria unicamente que, em determinado tempo, estes foram mais importantes para os que fizeram uso da língua.

O pequeno poeta em desespero clama aos deuses das cátedras: restará esperança para definir-se a ausência?

Ah sim, a frase de somenos importância. I’m unhappy, but also unsad.

Copyright © 2006 Lawrence Wengerkiewicz Bordignon

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