terça-feira, 31 de maio de 2005

Celebrai

Avaliai a morte iminente da farsa coesa da criatura loquaz:

O pensamento neutral na mente cansada destroça a realidade, sem compromisso e sem destino. Larval e rudimentar expõe a equação sempiterna da personalidade as suas bases mensuráveis, singulares. Depois, divide-as, subtraindo discursos, multiplicando as vontades, adicionando valores.

Tudo analisa e tudo avalia, sem definir. Armazena.

Presenciai a morte coesa da farsa permanente da criatura loquaz:

A massa inerte é misturada, diluída e depurada. Dela retiram-se as paixões os desejos e os retrocessos. Peneiram-se os amores e as felicidades esquecidas. Extraí-se o sumo dos fatos que os causaram.

Produzem-se os antídotos, aplicam-se-nos, e verificam-se os resultados.

Por hora foi útil. A mutação da praga combatida, contudo, obriga a constante busca dos remédios. Nada é estanque, nada é definitivo. Herculeamente se persiste. Novas misturas de vontades, novos calmantes de desejos, novos escapes de paixões. Fórmulas que não suprimem o vírus, mas retardam sua atividade. Ele volta a calcinar.

A ciência já não é mais útil. Busca-se a filosofia, e uma carruagem forte o suficiente. Possivelmente só os pássaros selvagens poderiam vir em socorro.

Neste novo mundo, ao lado da Rosa, limpando vulcões, percebe-se que a cura foi dita há muito a Alcibíades.

Celebrai a morte loquaz da farsa coesa da criatura eminente:

Conheço-me a todos.

Copyright © 2005 Lawrence Wengerkiewicz Bordignon

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segunda-feira, 23 de maio de 2005

Pendendo da Árvore

Amadureço em prosa, pois não sei faze-lo em versos. Falta-me a musicalidade. Embora por óbvio lhes compreenda a métrica, nunca soube diferenciar um dó de um mi.

Talvez seja tudo culpa de Sininho. Não me deu pó do pirlimpimpim suficiente para que pudesse cantar. Só o necessário para poder me enxergar com os olhos de Peter.

Estive na Terra do Nunca. Lembrei da época em que enxergava sabres em pedaços de pau. Gloriosas guerras em pequenos embates entre maltrapilhos. E vi que cresci.

Mas, diferente de Wendy, que conseguiu o paralelo ideal entre os dois mundos, cresci como se cresce hoje, ou sempre se cresceu. Achando que os amores imortais só são eternos enquanto duram, que os amigos sempre serão amigos, não importando a distância e que o trabalho enobrece o homem.

E então vem Peter e sussurra nos meus ouvidos. Fala que os amores serão eternos, não importando quantos deles eu tenha na vida. Que meus amigos sempre serão meus amigos, mas de que isso vale se eu não brinco com eles. Que o trabalho é uma forma de se manter vivo e não um motivo para o qual se vive.

Mostra-me que a segurança da vida adulta não é nada senão uma grande máscara que se monta para esconder o frio da barriga, as noites de choro, o sonho com os desejos.

Mas como confiar em alguém que escolhe estar estacionado?! A vida deve ser vivida mas os acontecimentos precisam servir para algo e, alfim, a escolha de como se absorve a vida é dos donos dos acontecimentos.

Ainda, por que permanecer verde e abrir mão do néctar adocicado se é ele que chama atenção? Das cores do amadurecimento? Das festas da colheita?

Sem ação, tento socorrer-me em Wendy que, tranqüila, salva-me: entenda que o amadurecimento é o último estádio antes da podridão, a sabedoria reside na ciência de onde parar.


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quarta-feira, 11 de maio de 2005

Devaneios Vestibulares

Vivemos numa época de resenhas, não de filosofias. O conteúdo do que se diz tornou-se menos importante que sua contextualização. Isso faz do verdadeiro autor não aquele que busca pela correta aplicação da estrutura sintática ao tema pretendido, mas sim aquele esmiúça e delimita sua obra. Mesmo o garimpo morfológico do léxico, necessário às insurgências pretéritas, perdeu seu lugar para os remoques diretos. Talvez a falta do medo tenha causado tal apatia lingüística. E depois se diz que a censura foi no todo inútil!

Ora, o vernáculo não é um fim, é um meio, embora completo em si mesmo. Um meio porque dá vida à idéia. Completo pois, por sua própria natureza, deve prescindir de explicações.

A modernidade, no entanto, acelerou o ritmo cardíaco, em detrimento de outros. Morre-se mais de infarto ao mesmo tempo em que se deixou de pensar. Não se faz mais refeições demoradas, que foram substituídas por idéias prontas para se deglutir.

Assim, rendo-me, ao mesmo tempo em que me desculpo pela pilhéria. Sou, conceitualmente, contra qualquer tipo de imposição e, portanto, declino da capacidade de usar o puro vernáculo, e explico-me.

Sempre em prol da objetividade, ainda que indireta, sou praticamente um médium, encarno os santos e vivo seus milagres. Usar uma pessoa diversa daquela que incorpora o ego me cansa. Prefiro relatar experiências próprias, ainda que em comodato, pois, para o bem ou para o mal, me serviram. Assim, merda aos olímpicos!, uma vez que nem só os atores têm essas prerrogativas.

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Conselho aos agricultores

Fui descuidado. Durante muito tempo deixei o terreno sem tratamento e me importei pouco com a qualidade das sementes. Fiz pouco caso disto, ...