segunda-feira, 10 de abril de 2006

A Evolução da Divinação

Falei que sou um médium e, por isso, conversei com Sócrates outro dia. Manda recomendações aos gregos e felicita-se por ter tomado cicuta antes de entrar para alguma academia de imortais. À minha estupidificada indagação do motivo limitou-se a responder que, permanecendo humano, renunciaria aos auspícios olímpicos neste nosso século. Não se pode, segundo meu ectoplásmico interlocutor, ser sem pensar.

Passamos pela época da filosofia. Lá, preocupávamos-nos em entender aquilo que sentíamos ou vivíamos. Hoje não se discute mais qual é a melhor forma de governo, qual é a melhor religião, qual é o sentimento mais nobre. Temos cientistas políticos, padres e psicólogos para isso.

Consumimos os conceitos prontos, assim como compramos pessoas, armazenamos relacionamentos, negociamos carinho. Por certo, sempre preocupados com as vantagens do pacote e o prazo de validade. Os bens são reduzidos em anúncios assim como a personalidade alheia é suplantada pelo que aparenta ser.

Claro que a publicidade sempre teve um papel fundamental nas relações humanas. Todos sempre fizeram auto-propaganda que não necessariamente correspondiam à sua verdade. Dom Casmurro que o diga!.. Mas, hodiernamente, acostumamo-nos a aceitar o marketing pronto, sem dar-nos ao divertido trabalho de afastar as fábulas.

Fotologs valem mais que olhares. Avatares mal editados importam desclassificação imediata. E o grau de simpatia e afinidade mede-se mais pela quantidade de contatos na lista de amigos que pelo sorriso colhido às escondidas em uma mesa de bar. Perdeu-se o gosto pela aventura.

Quando se sonha, não se busca no mundo onírico a delicadeza do toque ou o odor do perfume. Pobres moçoilas casadoiras que perderam o direito devanear durante toda a semana se, após a missa de domingo, seu príncipe dirigir-lhes-ia o olhar. Definitivamente, abdicam de um bom passatempo quando esperam, em lugar disto, um clique do mouse sobre o botão sim, eu lhe aceito em minha lista de contatos.

Após, alguns minutos de conversa assistindo o ir e vir de letras em frases formuladas às pressas enquanto se divaga com uma foto estanque, e o bloqueio definitivo. Até mesmo a Lua não tem mais o que testemunhar!

Piscadas de um olho só não têm mais charme. Lêem-se testemunhos para averiguar a compatibilidade de gênios. Talvez os blogs pudessem clarear as primeiras impressões virtuais, mas não são suficientemente visuais. Têm muitas letras.

Obrigo-me a concordar com o grego e esposar também do receio de uma amiga. Do jeito que vamos, com certeza, até o místico ato de divinação da sorte virá no sentido de determinar que o futuro marido será o autor do scraap número 1.534.

Copyright © 2006 Lawrence Wengerkiewicz Bordignon

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