terça-feira, 21 de março de 2006

Trapalhadas Sangrentas

Stoker estava errado. Conheci um vampiro que morreu. De indigestão!

Acostumou-se de mais com os hábitos deste tempo e confundiu o ato de alimentar-se do sangue com o de possuir a alma. Vampiros precisam apaixonar-se, não amar!

Não que nós mortais sejamos muito esclarecidos a este ponto, com freqüência confundimos nossas necessidades. Por vezes, nos contentaríamos só com o vermelho, mas queremos o puro. Ignorância incipiente própria de seres em conflito como nós, incapazes de perceber a diferença entre um lanche rápido para o ego e uma constante nutrição para o ser.


Ou talvez nem tanto infantilidade, mas tarimba cincada. O contrato Hobbesiano avezou-nos ao fastfood. Mas, por sorte sobrevivemos, aos trancos, com alguns sanduíches esporádicos.


Já o vampiro, meu amigo, entendeu às avessas! Desistiu do seu arroz e feijão e foi em busca das maçãs de Hera. Deixou-se levar pela falsa imagem de deus que fazia de si mesmo e envenenou-se.


Chegando ao jardim, e percebendo a exuberância dos pomos que se apresentavam, foi-lhe difícil escolher entre os rubros e dourados, suculentos ou adocicados. Resolveu provar de todos ao mesmo tempo. Até tentei advertir-lhe da pesada refeição da qual se fartava. Não me deu ouvidos.


Mordicava um, beliscava outro... quando, ao fim, a fermentação dos sentimentos extravasou o corpo. Explodiu!


Os jornais noticiaram como trapalhada. Meus outros amigos tentaram explicar a insatisfação tenaz do delirante vampiro, relevando a inconstância das vontades, justificando-o com a exuberante força recém adquirida da sua pueril notoriedade imortal.


Eu, testemunha ocular, vi o arroubo da paixão nos olhos
do carniceiro que dilacerava os frutos da alma.

Copyright © 2006 Lawrence Wengerkiewicz Bordignon

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