Stoker estava errado. Conheci um vampiro que morreu. De indigestão!
Não que nós mortais sejamos muito esclarecidos a este ponto, com freqüência confundimos nossas necessidades. Por vezes, nos contentaríamos só com o vermelho, mas queremos o puro. Ignorância incipiente própria de seres em conflito como nós, incapazes de perceber a diferença entre um lanche rápido para o ego e uma constante nutrição para o ser.
Ou talvez nem tanto infantilidade, mas tarimba cincada. O contrato Hobbesiano avezou-nos ao fastfood. Mas, por sorte sobrevivemos, aos trancos, com alguns sanduíches esporádicos.
Já o vampiro, meu amigo, entendeu às avessas! Desistiu do seu arroz e feijão e foi em busca das maçãs de Hera. Deixou-se levar pela falsa imagem de deus que fazia de si mesmo e envenenou-se.
Chegando ao jardim, e percebendo a exuberância dos pomos que se apresentavam, foi-lhe difícil escolher entre os rubros e dourados, suculentos ou adocicados. Resolveu provar de todos ao mesmo tempo. Até tentei advertir-lhe da pesada refeição da qual se fartava. Não me deu ouvidos.
Mordicava um, beliscava outro... quando, ao fim, a fermentação dos sentimentos extravasou o corpo. Explodiu!
Os jornais noticiaram como trapalhada. Meus outros amigos tentaram explicar a insatisfação tenaz do delirante vampiro, relevando a inconstância das vontades, justificando-o com a exuberante força recém adquirida da sua pueril notoriedade imortal.
Eu, testemunha ocular, vi o arroubo da paixão nos olhos do carniceiro que dilacerava os frutos da alma.
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